segunda-feira, 8 de junho de 2009

"Eva viu a uva"


Nunca fui aquilo que se convencionou chamar "de esquerda", mas vou me socorrer de uma frase do educador PAULO FREIRE:

"Não basta saber ler que Eva viu a uva. É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho." (Educação na Cidade)

De fato, desconfio das cartilhas, pois sua intenção é impositiva ou, na mais amena das hipóteses, meramente descritiva. Se não é assim, não é cartilha. Cartilha é silabário, não é instrumento com escopo de proporcionar a reflexão. Se se propõe a isso (ao fomento do raciocínio reflexivo), não é cartilha.

Logo, dizer que o público homossexual necessita de uma cartilha é buscar impor. Não sou alheio às mazelas culturais dos homossexuais, muito pelo contrário. Todavia, o regime democrático, a meu ver, deve repudiar qualquer forma de imposição de conhecimento e, em contrapartida, abrir espaço para o direito de "lamentar". Assim como eu lamento a mentalidade puramente capitalista e bombástica (pois ela mina um movimento que tende a ser político) de empresários do entretenimento que organizam a "balada" para o mesmo horário que a parada, eu tenho que lamentar a mentalidade dos despolitizados, incôncios da situação oficial do homossexual como cidadão de segunda categoria.

Mas a regra do livre-arbítrio (para os que crêem em Deus) e da liberdade (para os que buscam a Democracia) devem triunfar e, nesse cenário, não há espaço para cartilha de modus vivendi. No máximo, cabe a nós, conscientes, o direito de lamentar. Se quisermos agir, esse agir deve ser um agir provocativo, que provoque reflexão e, pela autodeterminação humana, aquele que é beneficiado pelo agir reflexivo pode adotar novas posturas.

Não se ofendam, autores de cartilha. Poderá meu cuspe cair em minha testa. Mas, se a cartilha do homossexual, na qual alguns blogayros estão debruçados na elaboração, for um ponto de reflexão ou um guia de acesso ao Poder Público, será ou um manifesto ou um guia.

Não se pode buscar o certo começando pelo errado (a Revolução de 1964, dizia-se, buscou a mantença da Democracia): ou se admite a cartilha ou se admite a real conscientização.

Termino com a justificativa desta postagem: Muito se disse e nada se explicou.

9 comentários:

Alexandre Lucas disse...

"Ensinamento quem dá é Deus..."

Daniel Cassus disse...

Calma, a "cartilha" não vai ter tom doutrinador, nem moralista. Estamos pensando em coisas realmente úteis, fáceis e práticas que cada um pode fazer depois que micareta-gay passar.

PS.: eu mesmo evitei a palavra cartilha no meu blog. Até isso estamos debatendo.

Gustavo Miranda disse...

Quando eu vi esse post, diferentemente do amigo Daniel, que postou acima, decidi que deixaria para falar a respeito depois que as nossas ideias fossem publicadas. Não elaboramos algo autoritário, nem alfabetizador. Nunca foi o nosso objetivo. Agora está lá e vc mesmo exclamou "Bravo!" O que a gente pretende é vencer preconceitos.
=)

Pavinatto disse...

Gustavo Miranda, querido. Não entendi porquê a partícula adversativa do período "agorá está lá você". Quero interpretar da forma mais plausível, ou seja, como "agora você notou a intenção". De fato, quando da "propaganda", só se falou de cartilha e não se deixou claro a que vinha. Frente a isso fui incisivo com o termo até mesmo em razões de responsabilidade política (se você quiser, posso repetir as razões deste post pra você, pois eu as dei a um grupo de blogueiros que passaram a discutir comigo a respeito das minhas críticas). Sim, escrevi BRAVO ao texto (apesar de a palavra cartilha aparacer perdida e insolente no item "20"). Ou você acha que vaiaria algo que achei bom? Não condiz comigo ser hipócrita até mesmo porque fui laudeado na USP por pesquisa no campo jurídico inexistente da homossexualidade. Como homossexual e estudioso (de fato e não fajuto) sobre as questões que cercam o tema, é meu dever aplaudi-los, bem como é meu dever criticar o que acho espinhoso, como o termo "cartilha". Nunca estive e nem estarei indisponível a colaborar com a causa. Só trabalhei na crítica porque era meu papel (e aí mora o risco de fechar grupos) - digo isso porque blogueiros renomados me perguntaram por quê, ao invés de trabalhar na crítica, eu não trabalhei na solução. Posso ser arrogante (como de fato sou em muitas ocasiões, como de fato meu intelecto me permite), mas não sou hipócrita a ponto de não exlamar um "Bravo!" para ideias louváveis.

:D

Alexandre Lucas disse...

Li, reli, e a palavra "cartilha" continua lá, me incomodando. Em que pesem as aspas, e minha admiração pelo BHY e pelo Daniel, que bem ou mal conheço e admiro, posso citar mais de 30 ou 40 ou 50 motivos pelos quais, se conselho fosse bom, ninguém dava. Ainda mais ensinamento!

NADA PESSOAL. No mais achei a intenção boa, mas disso, sabemos aqui no RH, o Inferno está ABARROTADO!

Gustavo Miranda disse...

Acatamos a sugestão de você e alteramos o conteúdo. Sim, Pavinatto, a resposta ao seu "porquê" na réplica acima está contida nela. =)

O VIADO E A TRANSGRESSÃO POÉTICA disse...

Democracia tem a ver, também ( ou teria...) com autenticidade. Na minha idade e no ponto em que chegamos, estou aplaudindo resultados concretos, não falatórios. Se for a TFP a nos apoiar e fazer com que o Brasil deixe de ser o campeão mundial em assassinatos de homossexuais, conseguirem aprovar a pl122 e o casamento gay, então eu vou aplaudir a TFP.
Dane-se o mero termo "cartilha', politisso é mesquinharia de quem vive se apegando a minúcias e inveja de quem não foi convidado ou não teve nem uma, quanto mais 30 ideias...
Conheço um monte de gente icamente correta, que nunca errou nem erra um terminho que seja, que super disfarça seus preconceitos nunca assumidos, mas não fazem nada. E , além de não fazerem, adoram destruir o alheio. Quem precisa de lgbt's assim? Acho que um skinhead pela frente seria mais honesto.
ah, não vou deixar comentário anonimo, não. Não é do meu feitio. Tem um cara aí que vive deixando, eu prefiro pagar o alto preço do que sinto e penso. E democracia não deve comportar censura...
Ricardo Rocha Aguieiras
aguieiras2002@yahoo.com.br
Fone:
011 - 3661-7202
Se quiser, passo depois os números de meus documentos...

Alexandre Lucas disse...

Ricardo, concordo que democracia não deve comportar censura. Nossa Constituição Federal também proíbe o anonimato, aqui só possível em alguns blogs pelo servidor ser norte americano.

Apesar de achar, pessoalmente, que a discussão está um pouco equivocada nas suposições de motivos pessoais de cada debatedor, acho que exatamente isso é o debate democrático.

Mesmo que não concordemos em tudo ou em nada, um pode respeitar a diferença do outro e conviver harmonicamente.

Essa é uma das muitas diferenças entre se viver no Brasil ou no Irã. Pelo menos por enquanto.

Pavinatto disse...

Ricardo,

Fiquei, confesso, espantado com sua agressividade contra mim, ainda mais por conta dos debates cordiais que costumava apresentar no meu antigo blog "PASSADO COM O BRASIL". Democracia pode, sim, ter a ver com autenticidade. Pode ter a ver com tantas coisas que, como ensinava meu professor de Direito Constitucional, MANOEL GONÇALVES FERREIRA FILHO, está em todos os lugares e, ao mesmo tempo, não está em lugar nenhum. Pode ter a ver com o tudo e com o nada. Juristas do quilate de NORBERTO BOBBIO já apresentavam a utopia de uma definição clara de Democracia. E, se Democracia pode abarcar tudo, não só também pode, mas DEVE, instaurar o debate, que foi o que fiz, de maneira cordial, sem agredir pessoas (como você fez ao me taxar de mesquinho, invejoso e "sem idéias"... Tenho certeza de que não sou assim e você sabe disso). Quanto ao não fazer nada, também refuto esse seu ataque: faço muito, principalmente no meio acadêmico, no fomento ao debate (que reputo indispensável na Democracia) e também militando, do meu jeito conservador, mas lutando (ou sou obrigado a ser diferente?). Se você acha um skinhead mais honesto que eu, lastimo (Democracia também traz o direito-dever de lastimar frente à inconcordância no debate).
Por último, não quis censurar ninguém, o que fiz foram, repito, críticas duras, mas que foram, veja você, inteligente e nobremente levadas em consideração pelos autores das 30 IDEIAS, que deixaram de lado o rótulo cartilha.
Tenho em meu currículo passagem por Brasília e conheço bem as regras do jogo político legislativo e, se é que uma criança tola, mesquinha, invejosa e acéfala (como você me desenhou) pode lhe dar uma dica, diria que assim a "causa" jamais logrará êxito (a não ser que se pegue em armas), como nunca logrou, pois assim sempre foi feito. Eu não beijaria o Sarney se ele se dissesse favorável à causa gay por execráveis interesses eleitoreiros.
Acredito no debate de ideias. Acredito na solidez das atitudes pensadas. Desacredito em homens bomba.
Seus documentos não são necessários, bem como não foram necessárias suas palavras agressivas, que não condizem com o valioso ser humano que você é, um crítico, um debatedor, uma pessoa consciente e antenada. Fico, de fato triste, mas não deixo de respeita-lo.