terça-feira, 4 de dezembro de 2007

A um amigo...



Li este texto no blog do Calvin e fiquei besta de como tinha tudo a ver com a conversa que tive por celular com um amigo próximo sobre o final de um namoro dele e seus momentos traumáticos.
Clicando sobre o texto, você poderá ler o artigo original do blog amigo :)

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“A alma do outro é uma floresta escura”, disse o poeta Reiner Maria Rilke, meu único autor de cabeceira.
A vida vai nos ensinando quanto isso é verdade. Pais, filhos, irmãos, amigos e amantes podem conviver décadas a fio, podem ter uma relação intensa, podem se divertir juntos e sofrer juntos, ter gostos parecidos ou complementares, ser interessantes uns para os outros, superar grandes conflitos – mas persiste o lado avesso, o atrás da mascara, que nunca se expõe e nem se dissipa.
Nem todos os mal-entendidos, mágoas e brigas se dão porque somos maus, mas por problemas de comunicação. Porque até a morte nos conheceremos pouco, porque não sabemos como agir. Se nem sei direito quem sou, como conhecer melhor o outro, meu pai, meu filho, meu parceiro, meu amigo – e como agir direito?
Neste momento escrevo, como já disse, um livro sobre o silêncio. Começou como um ensaio na linha de O Rio do Meio e Perdas & Ganhos, mas acabou se tornando um romance, em pleno processo de elaboração. Isso me faz refletir mais agudamente sobre a questão da comunicação e sua por vezes dramática dificuldade, pois nos mal-entendidos reside muito sofrimento desnecessário.
Amor e amizade transitam entres esses dois “eu” que se relacionam em harmonia e conflito: afeto, generosidade, atenção, cuidados, desejo de partilhamento ou de vida em comum, vontade de fazer e ser um bem, e de obter do outro o que para a gente é um bem, o complicado respeito ao espaço do outro, formam um campo de batalha e uma ponte.
Pontes podem ser precárias, estradas têm buracos, caminhos escondem armadilhas inconscientes que preparamos para nosso próprios passos em direção ao outro. O que está mergulhado no inconsciente é o nosso maior tesouro e o mais insidioso perigo.
Pensar sobre a incomunicabilidade ou esse espaço dela em todos os relacionamentos significa pensar sobre o silêncio: a palavra que devia ter sido pronunciada, mas ficou fechada na garganta e era hora de falar, o silêncio que não foi erguido no momento exato – e era o momento de calar.
Mas, como escrevi várias vezes, a gente não sabia.
É a incomunicabilidade, não por maldade ou jogo de poder, mas por alienação ou simples impossibilidade. Anos depois poderá vir a cobrança: por que naquela hora você não disse isso? Ou: por que naquele momento você disse aquilo?
Relacionar-se é uma aventura, fonte de alegria e risco de desgosto. Na relação defrontam-se personalidades, dialogam neuroses, esgrimem sonhos e reina o desejo de manipular disfarçado de delicadeza, necessidade ou até carinho. Difícil? Difícil sem dúvida, mas sem essa viagem emocional a existência é um deserto sem miragens.
No relacionamento amoroso, familiar, ou amigo acredito que partilhar a vida com alguém que valha a pena é enriquecê-la: permanecer numa relação desgastada é suicídio emocional, é desperdício de vida. Entre fixar e romper, o conflito e o medo do erro.
Somos todos pobres humanos, somos todos frágeis e aflitos, todos precisamos amar e ser amados, mas às vezes laços inconscientes enredam nossos passos e fecham nosso coração. A balança tem de ser acionada: prevalecem conflitos ásperos e a hostilidade, ou a ternura e aqueles conflitos que ajudam a crescer e amar melhor, a se conhecer melhor e melhor enxergar o outro? O olhar precisa ser atento: mais coisas negativas ou mais gestos positivos? Mais alegria ou mais sofrimento? Mais esperança ou mais resignação?
Cabe a cada um de nós decidir, e isso exige auto-exame, avaliação. Posso dizer que sempre vale a pena, sobretudo vale a pena apostar quando o outro continua sendo um desafio em lugar de um tédio, e quando, entre pais e filhos, irmãos, amigos ou amantes, continua a disposição de descobrir mais e melhor quem é o outro, o que deseja, de que precisa, o que pode – o que lhe é possível fazer.
Em certas fase, é preciso matar a cada dia um leão; em outras, estamos num oásis. Não há receitas a não ser abertura, sinceridade, humildade que não é rebaixamento. Além do amor, naturalmente, mas esse às vezes é um luxo, como a alegria, que poucos se permitem.
Seja como for, com alguma sorte e boa vontade a alma do outro pode também ser a doce fonte da vida."

7 comentários:

Rafael Calvin disse...

Oi Amigo!
Fico feliz de saber que vc visitou meu blog e e gostou do texto! Afinal, blogs servem pra isso, pra gente disseminar nossas mensagens, e se com isso a gente consegue ajudar uns aos outros, melhor ainda né. Espero que seu amigo consiga ler o texto e obter dele a luz de sabedoria suficiente para superar esse momento, assim como ele está me ajudando.
Um grande abraço!
CALVIN

K. disse...

Ah, e na contramão disso tudo, eu digo: se nem começa, não tem fim. Sou pró-praticidade :P

FOXX disse...

lyia luft é bom né?

Anônimo disse...

"Como é por dentro outra pessoa
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro entendimento.
Nada sabemos da alma Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição de qualquer semelhança
No fundo"

(fernando pessoa)

Thiago de Assumpção disse...

nossa..
ja li essa postagem no calvin mesmo...
muito linda
vale a pena por no blog.
abração

Alexandre Lucas disse...

:)

andre disse...

Acho que numa relação intensa e sincera é possível sim conhecer o outro plenamente. O que não se pode é conhecer o outro eternamente, achar que as coisas vão ser do mesmo jeito sempre. A percepção das mudanças trazidas pelo tempo pode dar a sensação para alguns de que o lado avesso ou o atrás da máscara sempre estiveram lá ... eu não penso dessa forma. André SP