domingo, 18 de outubro de 2009

Corregedoria

Desde que assumiu a Corregedoria, subordinada ao Conselho de Ética e Decoro – por mim presidido – do RH, Pavi deixou claro que não queria fazer corpo mole. E como o Analista de Bagé disse: cavalo manso é para ir à missa! Com sua técnica de rumba, ganhou a fama de “ir a fundo” nas questões.


Verdade que não era tão violenta quanto a anterior ocupante do cargo, Que sempre fazia-se acompanhar de uma Legião (de demônios) e já iniciava os depoimentos com uma coronhada bem dada. Mas em verdade Pavi assumiu uma Corregedoria um tanto desacreditada. Os métodos violentos não eram tão eficientes contra demônios bem treinados e a maioria das poucas confissões eram anuladas por ardis de sábios advogados no Conselho de Ética e Decoro.


Dava como certa a nomeação de Pavi, dada sua experiência vasta e currículo impecável. Entretanto, não logrei, como esperava, converter a chata sabatina em um bate papo descontraído. O andar de Cima enviou como observador um antigo corregedor: o sisudo Juiz Arcanjo Uriel (אוּרִיאֵל ) - hebraico para “Deus é minha luz”, que já havia transmutado em demônios anjos que haviam em tempos imemoriáveis fornicado com mulheres humanas. Eu e Pavi ignoramos sua presença completamente e já estávamos para começar quando, para minha surpresa, entra o deus da luz – em latim “o portador da luz” - sim, Lúcifer, a estrela da manhã.

Ali percebi que a reunião seria estressante. Uriel demandava poder de veto e Lúcifer estava irritado com a presença do outro anjo. Irritado, disse a Uriel que se ele quisesse prerrogativas que transferisse aos Céus a estrutura do RH e o assumisse, largando de ser preguiçoso. Para mim, confesso, seriam verdadeiras férias o divertido trabalho de enviado da Morte, meu cargo original, em empréstimo administrativo que aceitei conforme comentei em post anterior.


Desde o Novo Testamento os anjos estão proibidos de vagar pela Terra para castigar, pelo menos até o advento distante do Apocalipse. Uriel esquivou-se com uma esperta desculpa do direito canônico.


Para minha sorte, e poupando meu tempo o suficiente para tirar a tarde de folga, deixando a Tábata de guarda, Lúcifer decidiu que Pavi seria aprovado ad referendum do Conselhão, dado que havia muitos processos atrasados e que, a seu ver, a mim cabia a decisão final e Uriel não passava de um funcionário público burocrata.


Com essa prerrogativa, Pavi assumiu a função e sua primeira providência foi chamar o Ricardo da Segurança Infernal para escoltar Uriel até o elevador. Tábata chegou de sua aula com o personal na academia e nós três restantes fomos almoçar numa churrascaria na zona sul da cidade de São Paulo, pois Lúcifer disse que as de Porto Alegre eram sofríveis.


Em menos de um ano no cargo, 92%dos processos tiveram andamento e a Corregedoria voltou a ser acreditada.

Um comentário:

Alexandre Lucas disse...

Tábata foi condenada...