segunda-feira, 6 de julho de 2009

Presente Bonito


Tudo bem, eu pedi. Quis o destino que o Daniel pudesse atender. Como diz a Dri Spaca, chama que vem.

Demorei mais de uma semana para escrever este post. É um agradecimento à gentileza do Dahmer no autógrafo e à impagável ajuda do Daniel na "função" de comparecer ao coquetel de lançamento do livro "A CABEÇA É A ILHA" - assim mesmo, tudo em maiúsculas, como os da geração minha e do Dahmer aprenderam a escrever em computadores antiquados de monitores monocromáticos, primeiro verdes, depois cinzas, coisas que hoje pertencem ao passado. Demorei porque desde que o amigo e sensei Paulo Sérgio me emprestou "Morangos Mofados" (contos. São Paulo: Brasiliense, 1982; 9ª ed. Cia. das Letras, 1995. Reeditado pela Agir - Rio, 2005), de Caio Fernando Abreu (1948 - 1996), não tinha em minhas mãos um livro fino que tivesse que ser lido aos poucos. Que ser posto de lado para se retomar o fôlego. E reparem que este que vos escreve está acostumado a toda sorte de coisas feias que a humanidade ainda nem inventou por aqui no RH do Inferno.

Caio Fernando Abreu era homossexual assumido. André Dahmer heterossexual assumido e bem resolvido. Mas ambos humanos e conhecedores da alma humana. Um em contos, o outro em tiras. Ambos verdadeiros e com obras que chocam os pudicos, os inocentes e os cínicos. Mas que levam as pessoas de mente aberta à profundas reflexões sobre a humanidade, o cotidiano, a vida e os valores em voga.

Dahmer é excessivamente citado neste blog. Mas não é uma atração como a do fã que matou John Lennon. É o desacreditar que, nesta altura da vida, encontraria um contemporâneo, de idade parecida, com o mesmo humor negro, as mesmas angústias e a mesma necessidade de colocar para fora suas verdades e dúvidas, por mais monstruosas que sejam.

Arnaldo Branco, gênio que conheço menos mas que escreve um prefácio à obra, cita uma das melhores frases de Dahmer: Deus sabe que eu não faço esses quadrinhos por mal.

Eu acredito piamente. Arrisco-me a dizer até que compreendo, pois também não escrevo este blog por mal.

Deixo para fazer vontade a vocês - comprem e leiam, vale cada pataca! - o melhor parágrafo, a meu ver, do prólogo do Dahmer:

"A Cabeça É a Ilha é um livro para esses seres estranhos, gente que conversa com os outros olhando para o chão. Para os que falam sozinhos, bêbados em seus apartamentos. Para os que olham para os edifícios altos como uma saída digna para o sofrimento. Não que o livro vá curá-los de toda a angústia. Porque, se dói, é sinal de que vive. Mas rir da própria dor é uma forma de domesticar nossos monstros e aceitar nossa fragilidade diante do abandono, da indiferença. Porque o mundo não precisa de mais suicidas, muito pelo contrário. Estamos precisando de gente renascida, se é que me entendem. Príncipes e monstros, somos capazes de tudo. Por isso, não tomem meu livro como uma aberração, mas sim como um presente feio que só as pessoas bonitas deveriam ganhar."

(As palavras foram negritadas por mim).


(a tira foi modificada por mim e aumenta se você clicar sobre ela)

7 comentários:

Celso Dossi disse...

Que tudo essa frase grifada!
Vou roubar pra postar. :P

Alexandre Lucas disse...

Celso,

O livro é do CAR***O!

Garotão disse...

Realmente a frase grifada é tudo. Vou aderir a recomendação e providenciar o livro!

Leandro Augusto
www.lexgrego.com
www.garotao.com

BHY disse...

Muito bacana a sua declaração de fã. Não pareceu nem um pouco com o fã do João, mas por via das dúvidas, não escute Beatles muito alto quando estiver passeando no Central Park.
;-)

Pavinatto disse...

De fato, como já tivemos a oportunidade de debater sobre o autor, ele é um filósofo, não do formato tradicional (e nem poderia ser), mas moderníssimo. Um Plínio Marcos da Filosofia. Certeiro e inteligível em (quase) todos os aspectos.

Daniel Cassus disse...

Eu é que tenho a agradecer. Só entrei em contato com o trabalho do Dahmer graças ao RH. Eu mesmo não resisti e comprei uma cópia do livro para mim também.

joao tada disse...

Eu acho que preciso desse livro!!! Será que é a minha biografia não autorizada???