sábado, 1 de dezembro de 2007

O Inferno da Culpa


Sou uma pessoa feliz por ter muitos amigos, em variados círculos. Meu problema é que muitas vezes esses amigos não se misturam e isso acaba me dando um tanto de trabalho...

A maioria de meus amigos está na casa dos 30, como eu. E a maioria vive crises inerentes a esta faixa etária.

Importante frisar que TODAS as faixas etárias têm suas crises, sendo as mais críticas sem dúvida a famigerada adolescência e a invernal velhice (para alguns apenas, esta).

As pessoas chegam aos trinta se cobrando o que fizeram de suas vidas, se estão casadas, se têm carreiras de sucesso, relacionamentos incríveis, enfim, se estão correspondendo às "expectativas" suas ou de outrem.

Observo muitos amigos(as) com namorados(as) mais novos(as) - estou falando aqui de uns 10 a 12 anos, e me pergunto o que está acontecendo. Creio que muitas pessoas têm medo da solidão, e por isso topam relacionamentos sem muita troca intelectual, ou com importante ênfase em vantagens financeiras e materiais diversas, apenas para poderem se declarar bem sucedidos no plano amoroso.

Não me interpretem mal. Tenho casais de amigos com essas assimetrias que estão juntos há mais de 10 anos e felizes. Mas recentemente isso têm sido endêmico nos meus círculos de amigos mais próximos.

Não vou chegar a uma conclusão neste artigo, pois acredito que cada um deve achar sua verdade, o que lhe traz felicidade. Imagino que as pessoas sintam-se tão mal quando são analisadas criticamente nestes aspectos quanto eu quando estou numa reunião de amigos em que sou o único solteiro dentre diversos casais e me olham alguns com olhar de pena, e outros com olhar de cobrança: "Ah, você escolhe demais", me dizem.

Dou de ombros e sigo adiante, sabendo que serei eu no fim quem decidirá a minha própria felicidade e de que nem tudo nesta vida é planejado. Faz parte da vida adulta compreendermos que não obteremos sempre aquilo que queremos. Por outor lado, de onde menos esperamos muitas vezes vêm coisas, pessoas e oportunidades maravilhosas, basta manter-se aberto.

Mas isso traz angústia, e uma professora minha da faculdade - muito querida, por sinal - dizia-me que "a angústia é a dor mental".

Assim, meu conselho neste sábado é VIVA INTENSAMENTE! A culpa é um peso que carregamos à tôa e por vontade própria.

Hoje cheguei do trabalho, tomei um banho bem quente, tomei minha Coca Zero com gelo, liguei para minha amiga Paulinha na Dinamarca, para minha irmã no interior de SP, para minha outra irmã em Curitiba, acessei a internet, coloquei 50% em dia, assisti meu seriado preferido e passarei a tarde dormindo, após falar com os amigos mais queridos pelo celular.

Sejam felizes também :)
Bom fim de semana aos amigos e leitores de perto e de longe!

Encerro deixando-lhes um texto que sempre me acalentou nos momentos difíceis desde a infância e durante a adolescência, da qual não mentirei, não nutro saudosismos de quaisquer espécies. Texto que li pela primeira vez em Dourados-MS, numa apostila do Colégio Objetivo, onde tive um dos meus melhores professores de Língua Portuguesa e Literatura, o Vilson (fica aqui a homenagem). Desculpem o tamanho do artigo :)

Da Solidão (Cecília Meirelles - in "Janela da Alma")

Há muitas pessoas que sofrem do mal da solidão. Basta que em redor delas se arme o silêncio, que não se manifeste aos seus olhos nenhuma presença humana, para que delas se apodere imensa angústia: como se o peso do céu desabasse sobre sua cabeça, como se dos horizontes se levantasse o anúncio do fim do mundo.

No entanto, haverá na terra verdadeira solidão? Não estamos todos cercados por inúmeros objetos, por infinitas formas da Natureza e o nosso mundo particular não está cheio de lembranças, de sonhos, de raciocínios, de idéias, que impedem uma total solidão?

Tudo é vivo e tudo fala, em redor de nós, embora com vida e voz que não são humanas, mas que podemos aprender a escutar, por muitas vezes essa linguagem secreta ajuda a esclarecer o nosso próprio mistério. Como aquele sultão Mamude, que entendia a fala dos pássaros, podemos aplicar toda a nossa sensibilidade a esse aparente vazio de solidão: e pouco a pouco nos sentiremos enriquecidos.

Pintores e fotógrafos andam em volta dos objetos à procura de ângulos, jogos de luz, eloqüência de formas, para revelarem aquilo que lhes parece não só o mais estático dos seus aspectos, mas também o mais comunicável, o mais rico de sugestões, o mais capaz de transmitir aquilo que excede os limites físicos desses objetos, constituindo, de certo modo, seus espírito e sua alma.

Façamo-nos também desse modo videntes: olhemos devagar para a cor das paredes, o desenho das cadeiras, a transparência das vidraças, os dóceis panos tecidos sem maiores pretensões. Não procuremos neles a beleza que arrebata logo o olhar, o equilíbrio das linhas, a graça das proporções: muitas vezes seu aspecto – como o das criaturas humanas – é inábil e desajeitado. Mas não é isso que procuramos, apenas: é o seu sentido íntimo que tentamos discernir. Amemos nessas humildes coisas a carga de experiências que representam, e a repercussão, nelas sensível, de tanto trabalho humano, por infindáveis séculos.

Amemos o que sentimos de nós mesmos, nessas variadas coisas, já que, por egoístas que somos, não sabemos amar senão aquilo em que nos encontramos. Amemos o antigo encantamento dos nossos olhos infantis, quando começavam a descobrir o mundo: as nervuras das madeiras, com seus caminhos de bosques e ondas e horizontes; o desenho dos azulejos; o esmalte das louças; os tranqüilos, metódicos telhados... Amemos o rumor da água que corre, os sons das máquinas, a inquieta voz dos animais, que desejaríamos traduzir.

Tudo palpita em redor de nós, e é como um dever de amor aplicarmos o ouvido, a vista, o coração a essa infinidade de formas naturais ou artificiais que encerram seu segredo, suas memórias, suas silenciosas experiências. A rosa que se despede de si mesma, o espelho onde pousa o nosso rosto, a fronha por onde se desenham os sonhos de quem dorme, tudo, tudo é um mundo com passado, presente, futuro, pelo qual transitamos atentos ou distraídos. Mundo delicado, que não se impõe com violência: que aceita a nossa frivolidade ou o nosso respeito; que espera que o descubramos, sem se anunciar nem pretender prevalecer; que pode ficar para sempre ignorado, sem que por isto deixe de existir; que não faz da sua presença um anúncio exigente. "Estou aqui, estou aqui!" Mas, concentrado em sua essência, só se revela quando os nossos sentidos estão aptos para o descobrirem. E que em silêncio nos oferece sua múltipla companhia, generosa e invisível.

Oh! se vos queixais de solidão humana, prestai atenção, em redor de vós, a essa prestigiosa presença, a essa copiosa linguagem que de tudo transborda, e que conversará convosco interminavelmente .


12 comentários:

Gui Sillva disse...

...as vezes é tão difícil entender a vida!
Aproveite o dia, queridão.
beijos

Unknown disse...

Creio que felicidade seja opção, como tudo na vida. É o apontar o dedinho e escolher o caminho certo naquele momento. Para uns não há opção, para outros mais de algumas centenas de opções...

E se cada um faz o seu caminho, cada um é reponsável pelas consequencias que a opção traz.

Certo e responsável disso, o resto é só viver.

Abração!!!!

PS: Coca Zero com gelo foi a melhor invensão deste mundo, depois da internet. hehehehe

Jackson Morais disse...

Quase impossível de ler o texto em itálico e cinza em fundo escuro para um míope convicto como eu. Porém, gostei do texto e entendo bem essas fases. O importante é não se importar muito.
;-)

Alexandre Lucas disse...

bhy, obrigado por continuar visitando meu blog. Tive dificuldades para mudar a cor da letra, mas desta vez (5a tentativa) consegui. :)

K. disse...

Tenho o mesmo problema com meus amigos, não posso juntá-los todos no mesmo ambiente...

Enfim, sobre a solidão, solteirice, casamentos e namoros... às vezes tenho a sensação de que nossos pais não pereceberam que nossa geração estava indo a mundo solitário (nem tinham como), então quando muitos se depararam com a carência, não souberam trabalhar. Quase todos, na verdade. Alguns se associam à primeira pessoa, outros se afundam no trabalho, etc. É difícil, mesmo. Até tenho medo... =)

Jackson Morais disse...

Muito gentil da sua parte, Alexandre, fazer isso: a mudança da cor. Aliás, esse tom de azul é meu predileto. (Tô me sentindo a Ana Maria Braga descrevendo para a Hebe sua nova cozinha, falando de cor!) Mas a parte final do texto é muito bacana. O texto todo.

Talvez nós sejamos arrogantes: esperamos o melhor de qualquer pessoa. É prudente não atrelar, inconseqüentemente, bondade ao alheio.

Rapaz, adoro vir aqui.
;-)

Anônimo disse...

otimo texto!
passei por esta agonia e pelo drama de nao cosneguir reunir os amigos,é um porre!

Luciano U. disse...

Estou chegando perto da crise dos 30 e já estou sentindo as cobranças!
Lindo texto da Cecília Meirelles. A solidão nos ajuda a refletir.

Alexandre Lucas disse...

A todos: amo Cecília. Sintam-se à vontade para mandar textos e compartilhar :)

BHY, obrigado pelo carinho e sinto falta de seus textos, viu? ;)

Jackson Morais disse...

Alexandre, tamos na ativa! Vai lá.
;-)

Anônimo disse...

OLA, ESTAVA NO BLOG DE UM AMIGO (MUNDO CALVIN) E VI SEU COMENTARIO.
GOSTEI MUITO DO SEU BLOG, TEM CONTEUDO E PRENDE A NOSA ATENCAO...
VISITEREI SEMPRE!
ADOREI ESSE POST, TALVEZ PQ TENHA ME IDENTIFICADO COM ELE COMO UM TODO...

ABRACOS!

Mais um... disse...

Também tenho 30 anos. Alguns estão casado, e pronto. Outros estão namorando meninas de 18 anos - mais maduras do que eles. Alguns tiveram filhos e não casaram, outros casaram e já separam. São os mesmos problemas de antes, mas agora o casamento não "é para sempre".