quarta-feira, 24 de junho de 2009

Vidas Bestas?


Após citações inúmeras em discussões filosóficas com meu pai, sempre sem poder julgar as referências e analogias por não haver lido o livro, decidi-me por ler "O Deserto dos Tártaros", do escritor italiano Dino Buzzati, em sua tradução para a língua inglesa. Sempre acreditei que meu pai havia ficado tão impressionado com o livro por ser o autor, como ele, de ascendência italiana, mas hoje creio que seja mais pelo caráter universal do livro e por serem praticamente contemporâneos: o livro é de 1940.

O escritor era homem de muitos dons, tendo sido também pintor, ilustrador, fotógrafo, jornalista e em especial, correspondente de guerra. Advogado de formação, mais um a provar que não é imprescindível o diploma para o exercício do bom jornalismo.

Escreveu mais de 40 livros, mas este é, sem dúvida seu maior sucesso. Apesar de ter passado a maior parte da vida produtiva na cosmopolita Milão, reputa-se à região natal e de freqüentes estadas de Buzzati a natureza solitária e o desencanto tão presentes em sua obra. Nasceu em 1906 em San Pellegrino, arredores de Belluno, cidade italiana nos isolados vales ao sopé do Monte Schiara.

Neste livro, narra a vida do militar Giovanni Drogo. Suas questões existenciais, inerentes a uma época em que fazia sentido orgulhar-se da família e da Pátria e por elas lutar e morrer se necessário, nos parecem distantes neste 2009.

Mas o livro trata da inutilidade freqüente e insólita do poder, dos cargos, e mesmo dos planos de vida e de seus ideais. Este questionamento, sim, pode ser transposto a qualquer tempo e a qualquer época da humanidade. Assim como a solidão de Giovanni, que, apesar de seu posto tão próximo da cidade, onde anualmente passa a licença, vê que os amigos vão seguindo suas vidas e se afastando e se perdendo com o passar do tempo.

Um livro para muitas reflexões. Hoje, anos depois, entendo o porquê de tantas citações, que ainda que esporádicas, nunca abandonaram minha memória.

Ao demonstrar as ilusões da vida, as pessoas que passam anos lutando por ideais ou instituições que perdem o sentido, pois que tudo é impermanente, leva-nos à certeira indagação: estaria eu vivendo de forma produtiva (na senso mais amplo)?

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