domingo, 2 de maio de 2010

Um Drink no Inferno

Às margens do Lago de Fogo, eu estava vendo a escultura afundar lentamente. Atrás a criatura por ela representada pulou e teve o mesmo destino. Eu não queria desperdiçar a viagem, longa e difícil, até aquele círculo do Inferno. Queria jogar o que mais precisava ali. E estava determinado.

Até que de mim aproximou-se um homem. Não, sabia que eu não estava ali dentre os vivos. Ele era muito velho e muito magro, de dedos que pareciam gravetos. Ele me olhava com profundos olhos castanhos, com aquela borda cinza que vê-se na íris dos olhos dos idosos. E eu e ele sabíamos que era desnecessário falar em voz alta.

"Disse-me" que nada jogasse no lago. Que o importante é dar início aos processos e mudanças em nossa mente. "Não se preocupe. O tempo de provação era necessário. Mas como tudo, temporário... Uma nova fase se iniciará e nada pode impedir seu desabrochar. Porque após o momento mais escuro da noite, começa a aproximar-se a alvorada."

Olhei de novo para o fogo e ao virar a cabeça o velho esvanecera como se nunca houvesse existido. Sabia que a mensagem havia sido dada. E que Tábata não estava mais dentre os viventes, e que a licença de Pavi estava por acabar.

Eu havia falhado. Não conseguira preparar ninguém para que eu pudesse tirar férias. Poderosos alguns haviam se tornado, mas sem a impermeabilidade necessária.

Ali, naquele exato momento, percebi meu erro e senti que essa percepção era para mim como uma libertação. Eu devia sair de cena e olhar tudo de longe, como cabia ao "encarregado".

Alea jacta est!
(Ficção)

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